Poesia Incompleta |
Não sei o que lhe respondi na altura. Devo ter puxado mais uma passa do cigarro que estava ali bem mais à mão de semear do que uma frase articulada. De facto, fiquei sem perceber se a afirmação era uma piada deadpan sobre a minha inveterada procrastinação ou se apenas libertava para a rua mal iluminada um conhecimento profundo a que tinha acabado de ter acesso.
Entretanto, ela abalou.
Como o acesso à mente humana alheia é uma tarefa para a qual não tenho escafandro adequado, encostei-me ao porquê de escrever elegias para quebrar a preguiça. Ou melhor, quebro a inércia com o elogio do morto. É claro que serve para tranquilizar a falta. Mas, se pensar melhor, reparo que o efeito é antagónico: de repente o morto está mais presente do que nunca. Acto contínuo, fareja-se o trilho e as migalhas que foi espalhando pela floresta. Eu ando há um par de dias à caça do Afirma Pereira..
Ritual matutino depois do banho e café: navegar (procrastinar?) uns minutinhos no Público online. Crise? Check! Síria? Check! Benfica? Check? Papa e Fidel? Check (but, what the hell?)! Saio do loop com um lead que me deixa vidrado. Leio a notícia, espreito o blogue, passo em revista as entradas mais antigas que anunciam livros que gostaria de folhear. Entretanto, apodera-se de mim o habitual irresistível desejo de escrevinhar um amontoado de frases que tentam parecer um elogio fúnebre. Afinal de contas, ficava a saber que Lisboa acabara de perder a sua única livraria exclusivamente dedicada à poesia.
A Poesia Incompleta tinha três salas, abriu em Novembro de 2008 e contava com um acervo de oito a dez mil volume de e sobre poesia em mais de 30 línguas. Esteve aberta na Rua Cecílio de Sousa, 11. Segundo Nuno Guerra, o seu proprietário, não deixou dívidas.
Eu não a conhecia e agora só a quero conhecer.
PS: Não há Podcasts para a redescobrir, mas o último post publicado no blogue da livraria datado de 26 de Março do ano corrente, dá entender que terá lugar uma ressurreição em local ainda indeterminado.
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