No More Takes: Elegia: Poesia Incompleta

quarta-feira, 28 de março de 2012

Elegia: Poesia Incompleta

Poesia Incompleta
Ontem pela noite dentro tagarelava com uma amiga sobre a derrota do Benfica, psicodramas e o estado da Pátria. Às páginas tantas, veio à conversa livros e meteu-se pelo caminho o Requiem do Tabucchi que tinha acabado de ler pela tardinha. É pá, o Tabucchi do último post no teu blogue, né? disse ela, Esse mesmo, respondi-lhe, Vê bem como são as coisas, nunca li nada dele mas ouvia com minha mãe um programa de rádio em que o tipo falava como mais um espanhuelo e um tuga qualquer. Incrédulo perguntei, A sério? É pá, será que há podcast disso? Ela parou - sim, travou a marcha porque tagarelamos enquanto trilhamos um percurso mais ou menos definido pelo subúrbio - e muito séria soltou um Já reparaste, não postavas nada há imenso tempo e agora pegas na morte do Tabucchi e ele parece mais vivo do que nunca.



Não sei o que lhe respondi na altura. Devo ter puxado mais uma passa do cigarro que estava ali bem mais à mão de semear do que uma frase articulada. De facto, fiquei sem perceber se a afirmação era uma piada deadpan sobre a minha  inveterada procrastinação ou se apenas libertava para a rua mal iluminada um conhecimento profundo a que tinha acabado de ter acesso.

Entretanto, ela abalou.

Como o acesso à mente humana alheia é uma tarefa para a qual não tenho escafandro adequado, encostei-me ao porquê de escrever elegias para quebrar a preguiça. Ou melhor, quebro a inércia com o elogio do morto. É claro que serve para tranquilizar a falta. Mas, se pensar melhor, reparo que o efeito é antagónico: de repente o morto está mais presente do que nunca. Acto contínuo, fareja-se o trilho e as migalhas que foi espalhando pela floresta. Eu ando há um par de dias à caça do Afirma Pereira..

Ritual matutino depois do banho e café: navegar (procrastinar?) uns minutinhos no Público online. Crise? Check! Síria? Check! Benfica? Check? Papa e Fidel? Check (but, what the hell?)! Saio do loop com um lead que me deixa vidrado. Leio a notícia, espreito o blogue, passo em revista as entradas mais antigas que anunciam livros que gostaria de folhear. Entretanto, apodera-se de mim o habitual irresistível desejo de escrevinhar um amontoado de frases que tentam parecer um elogio fúnebre. Afinal de contas, ficava a saber que Lisboa acabara de perder a sua única livraria exclusivamente dedicada à poesia.

A Poesia Incompleta tinha três salas, abriu em Novembro de 2008 e contava com um acervo de oito a dez mil volume de e sobre poesia em mais de 30 línguas. Esteve aberta na Rua Cecílio de Sousa, 11. Segundo Nuno Guerra, o seu proprietário, não deixou dívidas.

Eu não a conhecia e agora só a quero conhecer.

PS: Não há Podcasts para a redescobrir, mas o último post publicado no blogue da livraria datado de 26 de Março do ano corrente, dá entender que terá lugar uma ressurreição em local ainda indeterminado.

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