Finding Vivian Maier está nomeado para o Óscar de melhor documentário. Não é de longe dos melhores documentários que foram feitos este ano. No entanto, interessa menos a nomeação do que lembrar a relevância da descoberta fenomenal de John Maloof, Ron Slattery e Randy Prow. No dia em que estes cavalheiros compraram num leilão alguns caixotes com negativos e gravações em 8mm ultrapassaram o limiar do mero coleccionismo: abriram caminho para toda uma obra por desvendar.
É um pouco como Pessoa e a sua arca.
Gosto de pensar que a obra é algo independente do autor. Ainda assim, é difícil não querer saber quem foi a pessoa que a construiu. Provavelmente, o mistério agudiza-se quando não há forma de questionar a pessoa, de chegar até ela. No caso de Maier, a ironia reside no facto de ser a fotografia - um mecanismo que ao mesmo tempo que finta a morte, imortalizando os momentos, acaba por os cristalizar como naturezas mortas - o meio privilegiado para chegar até à sua vida.
Para além da forma como Maier via o mundo, também é interessante pensar que era a prática da fotografia em si mesma, o flanar pela cidade, ver e disparar, que constituía a sua principal obsessão, mais do que imprimir ou publicar. Dá claramente a entender um modo de vida.
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