Callahan, o mister que em tempos idos assinava a sua obra como Smog é um tipo cheio de truques na manga. Por truques não se entende a produção ardilosa dos seus discos. Dificilmente identificamos algo mais low&tech na paisagem dos cantautores americanos. As reviravoltas inesperadas residem no humor retorcido que se esgueira das mangas da sua camisa de cowboy.
Eid Ma Clack Shaw é o exemplo perfeito de Callahan a brincar com os seus sentimentos mais negros. Às páginas tantas, enquanto navega na jangada melancólica da dor de amor, Bill canta que sonhou com a canção perfeita. O anúncio do Santo Graal da música popular foi-lhe revelado durante aquele estado em que o austríaco que gostava de divãs dizia que o inconsciente andava à solta. Levantamos então a orelha para o refrão que nos trará a transcrição em primeira mão da verdade revelada. Callahan, qual profeta com o megafone na mão, cospe isto:
Eid ma clack shaw
Zupoven del ba
Mertepy ven seinur
Cofally ragdah
Que sentido dar a estas quatro frases que se aninham numa estrofe? Uma língua perdida de uma civilização submersa pelas águas frias do Atlântico? Um código com fins militares sussurado por uma alma penada ao cérebro cansado do sonhador? Resquícios de uma aprendizagem deficiente de uma língua nórdica? Qual quê! Apenas o aleatório que espera por alguém para lhe dar um significado.
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