No More Takes: Os 112 anos de Jorge Luís Borges

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Os 112 anos de Jorge Luís Borges



A 24 de Agosto de 1899 nascia na cidade de Buenos Aires Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo. Decorridos 112 anos, e por muito irónico que possa parecer, a maior base de dados mundial, que mais se assemelha a uma biblioteca inacabada de todos os registos digitais humanos, assinala a data de nascimento do homem que ficou conhecido para a história como Jorge Luís Borges. Entre as duas datas ficaram os espelhos, os tigres e uma biblioteca infinita.



O passado

Tudo era fácil, parece-nos hoje,
Nesse plástico outrora irrevogável:
Sócrates dissertando sobre a alma
E o seu caminho, com a cicuta pronta,
Enquanto a morte azul lhe vai subindo
Dos pés enregelados; a implacável
Espada que retine na balança;
Roma, que impõe o numeroso hexâmero
Ao obstinado mármore dessa língua
Que manobramos hoje, estilhaçada;
Os piratas de Hengisto que atravessam 
A remo o temerário mar do Norte
E com as fortes mãos e a coragem
Fundam um reino que será o Império;
O rei saxão que oferece ao da Noruega
Sete palmos de terra e que executa,
Antes que o Sol se ponha, essa promessa
Na batalha dos homens; os ginetes
Do deserto, que cobrem o Oriente
E ameaçam as cúpulas da Rússia;
Um persa que refere a primeira 
Das mil e uma noites e não sabe
Que principia um livro que outros séculos
De todas as vindouras gerações
Não entregam ao mundo esquecimento;
Snorri que salva na perdida Thule;
À luz de mil monótomos crepúsculos
Ou em noites propícias à memória,
As letras e os deuses da Germânia;
O jovem Schopenhauer que descobre
O desígnio geral do universo;
Whitman, que numa redacção de Brooklyn,
Entre o cheiro da tinta e do tabaco,
Toma, sem dizer nada, a infinita
Resolução de ser todos os homens
E de um livro escrever que seja todos;
Arredondo, que mata Idiarte Borda
Na alvorada de Montevideu
E se entrega à justiça, declarando
Que tudo fez sozino e sem cúmplices;
O soldado a morrer na Normandia,
O soldado a morrer na Galileia.

Tudo isto pôde não ter existido.
Quase não existiu. Imaginamos
O seu ontem fatal, inevitável.
Não há mais tempo que o agora este ápice
Do já será, do foi, daquele instante
Em que a gota caiu numa clepsidra.
O ilusório ontem é um espaço 
De figuras de cera, sempre imóveis,
Ou de reminiscências literárias
Que o tempo irá perdendo em seus espelhos.
Eric, o Vermelho, Carlos Doze, Breno
E essa tarde inefável que foi tua
Não na memória, mas na eternidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário