O problema tem barbas, brancas e longas por sinal. Se aquela massa aparentemente informe que apelidamos de cérebro é tudo aquilo que interessa para desvendar os segredos do nossa mente, estudemos o orgão maravilhoso com afinco e determinação. Pessoal, tragam a caixa das ferramentas. Vamos abrir a caixa negra. É desta que desencrencamos o problema mente-corpo.
Mas há uma outra manifestação deste problema que é tanto ou mais interessante: as pingas do estudo científico salpicam a cultura popular. Hoje lê-se sobre o cérebro feliz, o cérebro triste, o cérebro criminoso. Com o advento das técnicas de imagem cerebral e as consequentes polaroids da massa cinzenta, acreditar que qualquer comportamento individual deixa uma marca numa área cerebral é recorrente. E, consequentemente, se deixa um traço discernível, é possível revertê-lo. Da identificação saltamos para a acção.
Ficamos então com uma bola de neve comportamental gigantesca: eu vejo o meu cérebro em funcionamento, atribuo os meus sentimentos e pensamentos àquela área (vamos simplificar, ok?), logo se mudar de comportamentos o registo cerebral altera-se.
Será que esta é a imagem que o público tem da Neurociência:? Melhor, não haverá já constituída uma brain culture com toda uma linguagem sem espinhas do jargão científico, acompanhada por uma constelação de suposições sobre a eventual descoberta para breve dos mistérios últimos da nossa existência? O simples facto de estar a escrever sobre esta temática da forma mais relaxada possível, leva-me a crer que a resposta é afirmativa. Isso, e a quantidade de livros de divulgação científica na minha estante, prestes a ruir com o peso.
O preâmbulo serve para informar que Jonah Lehrer entrevistou Davi Johnson Thornton a propósito do lançamento do seu mais recente livro Brain Culture: Neuroscience and Popular Media, um volume que aborda, sob um ponto de vista retórico, este tipo de questões.
A entrevista está aqui.
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