No More Takes: Design Social

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Design Social



Há uns tempos fiquei a saber onde se comem os melhores pastéis de nata de Lisboa. E não, não é em Belém. Para ter acesso a essa preciosa informação não comprei a Time Out, nem calcorrei as artérias da capital em busca do pastel perdido. Cingi-me a seguir a pista gastronómica dada por amigo que atravessa a Avenida de Berna com frequência. 


Mas não é de pastéis de que trata este post. Pelo menos directamente. A questão é saber em quem confio (para além do meu apurado paladar) para me influenciar nas minhas decisões consumistas.


Publicidade, marketing, media ou celebridades são as hipóteses mais citadas quando queremos saber o que nos influencia diariamente. OK, todas terão um valor na equação, mas nenhuma delas se compara aos pares. 


Eu confio a minha barriga aos meus amigos mais chegados. Porque razão não o haveria de fazer,  se eu gosto deles e eles gostam de mim? É o laço invisível da confiança que me faz dar um pulo a um Nepalês ali para as bandas do Martim Moniz.


O último artigo de Eric Fisher para a UX Magazine - revista dedicada ao design e tecnologia -  explora de forma descontraída os princípios subjacentes ao Design Social (descansem minha gente, não é uma área exotérica apologista do Design Inteligente).


A premissa de Fisher é bastante simples: os humanos são bichos gregários. Pese embora, todo o nosso aparato biológico, não vamos longe sem o resto da tribo. Os outros - amigos e família - são fonte de informações, aprendizagem e conforto. Esta união é forjada pela confiança.


Como nenhuma nova geração inventa tudo sozinha, temos que confiar no parceiro do lado para nos guiar até porto seguro e vice-versa. Provavelmente recomenda-nos a 2ª Circular àquela hora para chegar ao nosso destino. Ao dizê-lo está a relatar-nos a sua experiência com aquela estrada.


Assim, o Design Social nada mais é do que uma disciplina que procurar explicar como se desenrolam essas experiências e o modo como são comunicadas. Os seus três pilares são a identidade, o diálogo e a comunidade.De um modo concreto: nós (o self), os outros e as conversas que entabulamos.


É através do diálogo que a confiança é alimentada. As palavras que circulam num circuito bi-direcional são a moeda franca que permite às pessoas partilharem ideias, sentimentos e experiências. É deste caldo caótico que saem pistas para escolher uma coisa em detrimento de outra.


A massificação da Internet pode nos levar a pensar que trocamos as palavras pelas imagens. Afinal, as listas com informação factual sobre os produtos e serviços são o pão nosso de cada dia. Mas se o osso está lá, falta a carne, o nervo e emoção por detrás dos produtos. Eu não quero só um pastel de nata; quero o melhor pastel de nata, com zero incerteza associado (até parece que estou a comprar um carro..) e que já agora tenha uma história por detrás.


A parte curiosa desta história é que este processo é extensível ao mundo virtual. O que tem a sua lógica, já que nos é evidente a não necessidade de estar cara a cara com os amigos para sermos influenciados por eles.


É aqui que entra o Facebook. A frase definidora de A Rede Social realizado por David Fincher, é proferida por Jesse Eisenberg na pele de Zuckerberg. Assim de memória a coisa aproxima-se a:
O  Facebook tem que ver com transportar toda a experiência da faculdade para dentro do computador.

Bem, e o que é a experiência da faculdade? São as praxes, as festas, os mexericos, os trabalhos, as directas, as saídas, ou seja, tudo o que se desenrola dentro de um contexto social específico. A proeza de transportar esse ambiente para um plano virtual pertence por inteiro a Zuckerberg. Em vez de programar um mundo de raíz, limitou-se a correr em directo os princípios que norteiam as nossas relações sociais.
A par da visualização de perfis, colocação de novidades, há uma outra funcionalidade que contribui em decisivo para o sucesso do Facebook: o "like". É sabido do poderio da opção "like" para desencandear cascatas virais. Fisher tem uma explicação para isso a partir da sua grelha teórica: passamos a gostar de uma coisa se um amigo tiver manifestado o gosto por ela. É a confiança no amigo que nos faz gostar também da mesma coisa. E como cada amigo tem um amigo em comum...
Em resumo, Fisher acredita que para existir experiências sociais interessantes o diálogo entre comunidade e o self deve ser fundado em 3 elementos: uso de informação pessoal para construir uma experiência personalizada, a omnipotência das conversas e do contexto social e a facilitação da partilha e envolvimento entre pessoas.

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