Simons e a sua simpátia mascote |
Mas pergunto eu: quem nunca passou os olhos pela a imagem que representa uma moçoila a olhar para trás, que por artes mágicas se transforma numa anciã de perfil? As pessoas que passam por esta experiência ficam sempre assombradas pelo facto de o cérebro, a partir do mesmo estímulo, responder de forma diferente. Há qualquer coisa no estímulo que tende para a ambiguidade, e o nosso computador de bordo oscila entre as várias interpretações possíveis.
Estas tentativas de perceber como o cérebro resolve os problemas da Cognição Visual, têm um longo historial na Psicologia, nomeadamente na área cognitiva.
Como as ilusões nos fazem ver coisas que não existem na realidade, são uma poderosa fonte de insights sobre o funcionamento cerebral. Inicialmente, as ilusões clássicas socorriam-se de formas e linhas, mas o desenvolvimento de novas tecnologias - vídeo e computadores - permite engendrar ilusões com imagens em movimento. Sinal dos tempos, algumas das ilusões do Top 10 de 2010 eram animações, e podem ser vistas em acção aqui.
Esta área do conhecimento transformou-se numa plataforma ampla, partilhada por engenheiros de software, matemáticos, mágicos profissionais, designers gráficos, escultores e pintores. Em comum têm o fascínio pelo mapeamento das fronteiras da percepção humana. A sobreposição entre arte e ciência nunca foi tão grande: os cientistas estão a utilizar ferramentas do design gráfico para tornar as suas ilusões mais artísticas, enquanto os artistas procuram colher informação da neurociência da visão para os ajudar a expandir o impacto das suas criações.
Das ilusões que a revista aponta, há uma que sempre me fascinou. A primeira vez que ouvi falar dela foi numa aula de Fundamentos de Psicologia Cognitiva (um nome pomposo para Iniciação à Psicologia Cognitiva). O estarrecimento foi total.
A experiência foi levada a cabo em 1999 por Daniel J. Simons e Christopher F. Chabris. Vejamos como se desenrolou.
É pedido a dois grupos de participantes que observem uma gravação de outros dois grupos de pessoas que estão a jogar basquetebol entre si. Três dos jogadores vestem T-shirts pretas. Os outros três equipam de branco.
A tarefa dos participantes é bastante simples, resume-se a contar o número de passes feitos pelos jogadores que alinham de branco. O que poderia haver de mais simples?
A meio da experiência algo de inesperado acontece. Uma pessoa vestida de gorila passeia-se no campo do jogo, bate com os punhos no peito enquanto olha de frente para a câmara que gravou a jogatana. Após este espectáculo simiesco, sai de cena.
Agora vem a parte interessante. Quando os experimemtadores perguntam aos participantes se viram um gorila durante o jogo 50% diz que não.
Esta espectacular demonstração empírica tornou-se rapidamemente um clássico na pesquisa sobre os processos atencionais. O caso não é para menos. Os pesquisadores revelaram um exemplo paradigmático de enviesamento atencional, o fenómeno através do qual o nosso cérebro ignora informação que não é relevante para a tarefa corrente, neste caso contar passes.
Ou seja, aquilo que estamos a ver, não é a totalidade do que está a decorrer à frente dos nossos olhos. Há um afunilamento dos escassos recursos de que dispõe a nossa atenção, o que se traduz numa cegueira atencional. De uma forma curta e grossa: filtramos informação.
Ainda tenho presente o dia em que tive acesso a estes resultados. Num ápice, dei-me conta da nossa infinita propensão para o erro involuntário.
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