No More Takes: A arte de pedir

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A arte de pedir


Olho para o relógio. As cinco da tarde aproximam-se a passos largos. Do outro lado da rua há um café que o meu estômago aprova sem delongas. Lá dentro o estabelecimento é aprazível, acolhedor, quente. Encaminho-me até ao balcão, digo
Boa tarde
e recebo de volta
Boa tarde
Enquanto passo os olhos pelas garrafas em cima das prateleiras de madeira colocadas na parede atrás da minha interlocutora, sai-me um
Queria um café e um bom bocado se faz favor
para logo voltar para os rótulos, formas e cores das garrafas. Reparo que dos lábios recortados da minha jovem interlocutora pingam umas palavras cujo sentido não percebo. Tenho que focar toda a minha atenção sobre a sua face e juntar, a partir do desenho da sua boca, sílaba a sílaba do eco que ficou entre nós. Percebendo o meu embaraço repete
Queria ou ainda quer?
Quero é muito impositivo
disparo
É verdade. Mas não deixa de querer
riposta, para ao mesmo tempo me entregar o tabuleiro com um seco
É um euro e noventa cêntimos
Levo a mão ao bolso para tirar duas moedas pousadas sobre o vidro impecável do balcão. Esboço-lhe um sorriso devolvido com um
Até à próxima
Dirigo-me então para a única mesa vaga do estabelecimento esquecido das formas das garrafas.

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